quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Malária - a informação como estratégia de controle da doença.

A principal estratégia de controle da malária humana em qualquer região do planeta ainda é o pronto diagnóstico e tratamento do homem doente, além de isolá-lo dos mosquitos transmissores enquanto com gametócitos na circulação sanguínea, considerando-se a inexistência de uma vacina eficaz. Tratar e isolar o homem doente é a única forma e eficaz de romper o ciclo da doença. Sem doentes expostos não temos mosquitos com possibilidade de se infectarem e sem mosquitos infectados não temos transmissão da doença. Um mosquito não infectado não transmite nada, só incomoda. Os transmissores da doença (alguns mosquitos do gênero Anopheles) passam a ter importância secundária em regiões onde o paciente é prontamente diagnosticado e tratado ou em regiões onde não existam gametócitos do protozoário em circulação no homem doente ou em portadores assintomáticos. Em áreas não endêmicas ou de transmissão interrompida, como o Rio de Janeiro, por exemplo, não se pensa na possibilidade de diagnóstico de malária quando se está diante de um paciente febril. Nessas áreas, além da letalidade ser mais expressiva, o diagnóstico deixa de ser clínico-laboratorial para ser epidemiológico-laboratorial, quando informações sobre a história de malárias anteriores ou a permanência em áreas de transmissão da doença podem esclarecer ou dar pistas para o diagnóstico. Em regiões endêmicas, a ocorrência de casos é proporcional aos níveis de degradação ou desequilíbrio ambiental, que favorece o aparecimento de superpopulação de mosquitos transmissores cada vez mais especializados, aos níveis de oferta de gametócitos em circulação presentes no homem doente ou assintomático exposto com retardo de diagnóstico e tratamento e aos níveis de informação ou desinformação sobre a doença. No Brasil, a malária é endêmica porque a maioria dos casos ou são tratados tardiamente ou simplesmente não são tratados, esses fatos mantem níveis crescentes de oferta de gametócitos em circulação, produzem novos casos e mantem a malária como endêmica no país. O ciclo da doença não se rompe em função da exposição do homem doente ao mosquito transmissor. E são exatamente esses gametócitos presentes no sangue do doente os responsáveis pela infecção no mosquito. Quanto mais gametócitos expostos em circulação mais mosquitos infectados e quanto mais mosquitos infectados, mais malária. Em outras palavras, o acesso ao diagnóstico e ao tratamento não atinge todos os homens doentes ao mesmo tempo e nem da mesma forma, e são resultantes, principalmente, da inacessibilidade política, geográfica e assistencial. A disponibilização de informações sobre os diversos aspectos da doença, sobre estratégias de recuperação ambiental e principalmente sobre onde buscar por socorro médico especializado para quem se desloca ou está em áreas de transmissão, representam importantes estratégias de controle, considerando-se que o óbito por malária é sempre resultante do retardo de diagnóstico, e este na maioria das vezes é oriundo da desinformação, principal causa do óbito desnecessário por malária. Fazer a informação navegar e chegar antes da transmissão, do surto, da epidemia ou do óbito por malária, é o desafio. Promover o envolvimento e a aproximação de todos que lidam com o problema malária, além de atrair parcerias entre pesquisadores, profissionais de saúde, estudantes, políticos, pessoas comuns da sociedade e empresas, representam estratégias possíveis e esperadas por aqueles que acreditam no controle da endemia. Estas estratégias não só exigem migração de informações em alta velocidade mas também com quantidade e qualidade, até porque na malária infecção assim como na malária doença o Plasmodium aparece, evolui, se multiplica, desorganiza sistemas, leva à falência mecanismos celulares funcionais e de defesa com uma velocidade de causar inveja a qualquer outro ser vivo. Desinformações sobre: o que é a doença, suas formas de transmissão, seus sintomas, os grupos de risco que podem desenvolver suas formas graves, as vantagens e desvantagens da quimioprofilaxia, os mosquitos transmissores e seus criadouros, medidas de proteção individual, os riscos e malefícios da automedicação, a relação das áreas endêmicas no planeta, medidas de recuperação e proteção ambiental e onde buscar por socorro médico especializado representam algumas das carências de informações que propiciam ao infectado a possibilidade de evoluir para as formas graves da doença e o óbito. A malária, além de ser uma doença de evolução muito rápida, é uma doença de suscetibilidade universal, isto é, qualquer pessoa pode contraí-la, desde que haja exposição ao risco em áreas de transmissão da doença, quando acontece a interação do homem doente com mosquitos suscetíveis, e de mosquitos infectados com o protozoário com o homem sempre suscetível na maioria das vezes. Sob este risco estão cerca de 2,8 bilhões de pessoas ou 40% da população mundial, que vivem em áreas de transmissão na região tropical do planeta. Um considerável grupo de pessoas são mais vulneráveis a desenvolverem as formas graves da doença como os portadores de doenças infecciosas como a Aids, crianças, mulheres grávidas,idosos e os que contraem a doença pela primeira vez. Com a iniciativa de formalizar parcerias e de fazer a informação navegar, acreditamos que é possível igualar não só no Brasil, as desigualdades políticas, as sociais e as sanitárias, pelo controle dessa antroponose que silenciosamente silencia milhões de pessoas no planeta todos os anos. Informar, ousar e fazer a informação navegar é preciso! Wanir José Barroso, sanitarista especialista em epidemiologia e controle de endemias pela Fiocruz/RJ E-mail: wanirbarroso@gmail.com * O link e o Folder "Conheça a Malária" abaixo estão autorizados a serem reproduzidos por todos aqueles que se sensibilizam com o problema malária no Brasil e no planeta. http://www.ensp.fiocruz.br/biblioteca/dados/txt_569194722.pdf