segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Avaliações da malária norte americana (USA). Avaliações da malária em Manaus e no Acre/Brasil. Contrastes da doença e dos doentes.

Every year, millions of US residents travel to countries where malaria is present. About 1,500 cases of malaria are diagnosed in the United States annually, mostly in returned travelers.CDC/USA http://www.cdc.gov/features/dsmalariasurveillance/index.html */a> "> "> Hoje não são muitos os americanos que contraem ou morrem de malária, mas ela já assolou o território americano e fez muitas vítimas em épocas não muito distantes. Hoje ainda a malária continua sendo um problema de saúde pública continental dos mais sérios em vários países, inclusive nos de primeiro mundo, que tem muitos casos importados, que são aqueles casos em que se contrai a doença em um lugar normalmente endêmico (com registro de casos) e o diagnóstico e o tratamento é feito em outro, em função da movimentação das pessoas com malária e do período de incubação que pode variar de 8 a 30 dias ou mais. O período de incubação é aquele período em que não há sintomas e que corresponde a fase hepática da doença. Nos países de primeiro mundo e nas regiões de transmissão interrompida como em algumas regiões do Brasil, da América e da Europa os recursos assistenciais e laboratoriais para a malária são escassos, concentrados em algumas regiões e pouco divulgados o que favorece muito o aumento do risco de se morrer de malária simplesmente porque não se pensa em malária como possibilidade de diagnóstico. Hoje no planeta meio bilhão de pessoas são atingidas pela malária e centenas de milhares vão ao óbito todos os anos ou por falta ou por retardo de diagnóstico e de tratamento de uma doença que não tem vacina mas tem cura. São mais de 100 países endêmicos, todos localizados em sua faixa tropical, inclusive o meu país, o Brasil. Em locais onde não há doentes com malária mas existe mosquitos transmissores, não temos transmissão da doença. Não podemos controlar ou erradicar mosquitos em lugar nenhum, mas podemos identificar e tratar os doentes com malária em todos os lugares. Se fizermos isso, podemos dizer que estamos dando enormes passos para o controle da doença. Não precisamos erradicar os mosquitos transmissores para ter a malária sob controle em lugar nenhum, até porque não conseguiremos, e muito menos culpá-los por esse gigantesco número de casos, pois eles também estão em luta pela preservação da espécie. Enquanto houver sol, chuva, floresta e água em nosso planeta haverá vida e mosquitos transmissores de várias doenças, inclusive os de malária. Eu e certamente no mínimo mais meio bilhão de pessoas ficaríamos imensamente agradecidos se você também hasteasse a bandeira do controle da malária no planeta, pois seu controle é responsabilidade de todos e tem dimensões continentais, e mais do que isso, precisamos sair da condição de expectadores desse sofrimento humano. Wanir Barroso, sanitarista, especialista em epidemiologia e controle de endemias pela Fiocruz-Brasil. Link dos vídeos: https://www.youtube.com/watch?v=p_jwEsolJkw a> https://www.youtube.com/watch?v=tT4OZC3w7TQ

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Malária - informações importantes e fotos comoventes

"> "Congratulações à Professora Claudia Renata e seus alunos pela produçao deste vídeo e por abraçar esta causa com tanta competência. São verdadeiras e comoventes a situação apresentada sobre a malária nos países africanos. Lembrando que situação dos outros países endêmicos e do Brasil não é muito diferente entre os que contraem a malária. Vejam também os vídeos de Anajás e Oeiras na Ilha de Marajo no Estado do Pará, http://malariabrasil.blogspot.com.br/2011/07/triste-realidade-da-malaria-na-amazonia.html . Quanto ao acesso malárico, este culmina com a febre que corresponde ao momento em que as hemácias estão se rompendo. Quanto maior o número de hemácias que se rompem ao mesmo tempo maior a febre. As hemácias que se rompem são os esquizontes sanguíneos, que nada mais são do que as hemácias repletas de protozoários maduros que nascerão prontos para invadirem novas hemácias quando lançados na corrente sanguínea. Se o tratamento não for iniciado rapidamente a doença segue seu curso para as complicações clínicas e as formas graves da doença através da intensa destruição celular sanguínea que desestabiliza o funcionamento de vários órgãos. Os primeiros órgãos a sentirem os efeitos dessa devastação celular são os rins, o fígado e o baço. Se o paciente for picado por mosquitos infectados de manhã e à noite ele desenvolverá duas malárias ao mesmo tempo com muitos picos febris e intervalos menores entre cada febre, pois terá protozoários em vários estágios evolutivos diferentes. Terá também grupos de esquizontes sanguíneos amadurecendo e se rompendo em períodos mais curtos, alterando dessa forma o sincronismo "normal" dos episódios febris característico de cada espécie. Considere-se também que os protozoários não chegam juntos ao fígado na fase inicial da doença. Esse sincronismo irregular de períodos febris confunde inclusive os mais experientes em relação à sintomatologia e ao diagnóstico clínico. Antes de chegar ao sangue, ocorre no fígado a grande multiplicação celular dentro dos hepatócitos, também chamada de esquizogonia primária. Nesta fase não há sintomas e esta corresponde ao perídodo de incubação da doença no homem, que varia de 8 a 30 dias ou mais. O maior ou menor período de incubação na malária dependente de vários fatores como: espécie parasitária causadora da malária, situação imunológica e clínica do paciente, uso de medicamentos, múltiplas malárias anteriores, entre outros. O ciclo hepático na malária na verdade não é um ciclo porque os protozoários que saem do fígado não reinfestam novas células hepáticas e sim invadem as hemácias. Os protozoários oriundos dos esquizontes hepáticos ou sanguíneos têm como alvos novas hemácias, que são células das mais especializadas por garantir a sobrevivência de todas as demais células humanas. O Plasmodium sabe utilizá-la com toda habilidade biológica e sem limitações para garantir a perpetuação da espécie e manutenção da doença. A fase de suor intenso após cada pico febril corresponde ao momento em que os protozoários que saíram das hemácias que se romperam estão invadindo novas hemácias. Se o diagnóstico e o tratamento não forem realizados rapidamente a situação clínica do paciente se agrava a cada momento, com distúrbios metabólicos cada vez mais complexos e complicações clínicas que culminam com a falência de vários órgãos como os rins, o baço, o fígado, os pulmões e o cérebro principalmente se o Plasmodium for o falciparum, responsável por quase 100% dos óbitos por malária no planeta. Casos com falência de órgãos são casos graves que necessitam de internação e tratamento médico intensivo. Crianças, idosos, mulheres grávidas, os que contraem malária pela primeira vez e portadores de outras doenças infecciosas normalmente desenvolvem quadros graves de malária independente da parasitemia, ou seja, do número de protozoários no sangue. Casos de malária cerebral em crianças que sobrevivem representa um enorme fardo para a saúde pública e para a sociedade em funçao das mais variadas formas de sequelas neurológicas deixadas pela doença. Crianças são alvos implacáveis do mosquito transmissor e do Plasmodium e as mais vulneráveis ao óbito. Os que contraem a doença e permanecem em áreas de transmissão sem diagnóstico e tratamento ajudam a manter a malária como endêmica, simplesmente por estarem doentes e expostos aos mosquitos transmissores, tornando-se uma fonte inesgotável de gametócitos que o mosquito precisa para manter o ciclo da doença e perpetuação da espécie de Plasmodium. Enfim, fica como conclusão que para contrair a doença basta ser picado por um mosquito Anopheles infectado com o Plasmodium e para um mosquito se infectar basta picar alguém doente. Sem doentes não temos mosquitos infectados e sem mosquitos infectados não temos transmissão de malária. Esse é o papel secundário que o mosquito tem no contole da doença, não precisamos controlá-lo para se conseguir o controle da doença, até porque não conseguiremos, pois enquanto houver água, chuva, sol e floresta haverá vida, em que o mosquito e outros insetos sabem usar como ninguém para sobreviverem e garantirem a perpetuação da espécie. Ao retirar o homem doente da frente dos mosquitos transmissores rompe-se a infecção no mosquito, parte mais frágil do ciclo evolutivo da doença. O aparecimento de novos casos é dependente disso. Enquanto se pensar que para controlar doenças transmitidas por picada de mosquitos a culpa é do mosquito e da população que não faz o seu controle, essas doenças continuarão endêmicas e sem controle. Essa é a principal causa da endemicidade da malária em todas as áreas endêmicas do planeta, inclusive no Brasil. Pois é, não é de hoje que a malária anda caminhando com suas próprias pernas, com suas poucas pernas e com suas curtas pernas. Precisamos deixar de lado o nosso silêncio e sair da condição de expectadores desse sofrimento humano,...pensem nisso!" WANIR BARROSO, sanitarista. https://www.youtube.com/watch?v=TDodZunX1Ks

domingo, 28 de outubro de 2012

O SEQUENCIAMENTO DOS GENOMAS DO P. FALCIPARUM, DO A. GAMBIAE E ALGUMAS DE SUAS IMPLICAÇÕES NO CONTROLE DA MALÁRIA HUMANA. (Revisão-atualização)

A malária humana é a antroponose de maior prevalência no planeta, isto é, nenhuma outra doença do homem, transmitida ao próprio homem através de alguns mosquitos do gênero Anopheles, atinge e mata um número tão grande de pessoas. O sequenciamento dos genomas fornecem a base para futuros estudos dos agentes etiológicos e dos transmissores da doença e poderão ser explorados na busca de novos medicamentos e vacinas, ou outras estratégias para controlar a expansão da doença. Apesar de mais de um século de esforços, estes foram poucos, negligenciados, pontuais e incapazes de erradicar ou controlar a malária. A malária continua sendo uma ameaça importante e crescente para a saúde pública mundial e para o desenvolvimento econômico dos países nas regiões tropicais e subtropicais do planeta. Estima-se há vários anos que ocorram cerca meio bilhão de casos anuais que causam cerca de 3 a 5 milhões de óbitos, sendo em sua maioria crianças com menos de 5 anos de idade. Ela está distribuída por mais de 100 países, em cerca de 112 áreas endêmicas que abrigam e expõem ao risco de contraí-la em torno de 40% da população mundial em sua região tropical. Os genes, que se encontram em todas as células dos seres vivos, são macromoléculas que contêm praticamente todas as informações sobre o funcionamento da célula onde se encontram. A determinação do seqüenciamento dos genomas do P. falciparum e do A. gambiae não deixa de ser antológica, histórica e memorável. O A. gambiae pela transmissão de um alto percentual de malária na África, onde ocorre cerca de 90% da malária do planeta, e o P. falciparum por ser responsável pela quase totalidade dos óbitos por malária. Estes estudos e, principalmente seus desdobramentos, podem vir a dividir a história da malária no planeta em duas etapas distintas - a era anterior ao conhecimento do genoma dos elementos do ciclo evolutivo da doença e a era pós-conhecimento, assim como aconteceu com a descoberta dos medicamentos antimaláricos, influenciando de forma grandiosa na redução de sua letalidade em meados do século passado. Essa determinação seqüencial poderá nos proporcionar conhecer quais e quantos são os genes desses dois seres, as funções que desempenham, além de oferecer a oportunidade de encontrar respostas para as numerosas perguntas de vários determinantes biológicos da doença que ainda estão parcialmente respondidos ou simplesmente ainda estão sem respostas. O P. falciparum é um protozoário extremamente eficiente na transmissão, na instalação da doença e na aquisição de resistência aos medicamentos antimaláricos, além de não ter predileção em parasitar hemácias de qualquer idade, e se multiplicar como nenhum outro protozoário, o que contribui para o desenvolvimento das formas graves da doença ou até mesmo o óbito num período de tempo extremamente curto, deixando grave a situação clínica de pacientes que apresentam retardo de diagnóstico e tratamento. A malária causada por este protozoário se instala transpondo barreiras de contenção imunológicas com eficiência e velocidade invejáveis aos outros plasmódios que também causam malária humana. Tudo é impressionante neste protozoário unicelular, principalmente a sua multiplicação celular, extremamente veloz e numericamente grande para ocorrer dentro de pequenas e especializadas células como o hepatócito e a hemácia. A cada invasão celular são formados novos batalhões de protozoários que já nascem prontos e treinados para invadir novas células e formar novos batalhões. É uma guerra desigual, em que o homem perde a vida em poucos dias se nada for feito para detê-los. E em algumas dessas batalhas, esses exércitos ainda conseguem destruir ou inativar a principal arma humana existente, os medicamentos antimaláricos. Nossos soldados imunológicos, os anticorpos específicos, não conseguem conter exércitos numerosos e com a velocidade necessária. A doença se instala exatamente no momento em que esta batalha dá sinais de derrota. Toda a massa de protozoários formada no interior das células humanas tem suas proteínas fabricadas a partir de aminoácidos de origem humana, ou seja, o paiol de suprimentos dos protozoários, são as próprias células humanas que estão sempre disponíveis ao exército inimigo. De cada esporozoíto (forma infectante para o homem) do P. falciparum injetado durante a picada do mosquito transmissor, esse se transforma, após o rompimento do esquizonte hepático, em cerca de 40 mil novas formas plasmodiais no fígado do paciente e essas, quando caem na corrente sangüínea, invadem rapidamente cerca de igual número de hemácias e ficam se multiplicando indefinidamente por cerca de 25 vezes ao final de cada volta do ciclo eritrocitário, ou de cada pico febril, se não houver diagnóstico e intervenção medicamentosa. Na terceira volta do ciclo eritrocitário ou terceiro acesso febril, por exemplo, um único esporozoíto que penetrou pela picada do mosquito infectado geraria cerca de 625 milhões de novas formas plasmodiais, chamadas merozoítos sangüíneos que invadiriam igual número de hemácias e se multiplicariam por 25 vezes novamente, reinfestando cerca de 15,6 bilhões de novas hemácias. Um dado real: no Rio de Janeiro, em 1998, um paciente que contraiu malária por P. falciparum em Angola, na África, permaneceu por desinformação, 8 dias com sintomas e sem tratamento. Em função deste pequeno retardo de diagnóstico, ele apresentou uma parasitemia com cerca de 1,2 milhões de hemácias parasitadas por milímetro cúbico de sangue no oitavo dia da fase sintomática quando foi diagnosticado, isto é, cerca de quase 25% de seu volume sangüíneo estava comprometido pelos plasmódios. Este paciente veio a desenvolver falência de vários órgãos como os rins, o fígado e os pulmões, atingiu o coma malárico com evolução para o quadro de malária cerebral, culminando com falência terapêutica, irreversibilidade dos quadros de falência de órgãos e o óbito. A hemácia é uma célula vital para a sobrevivência de todas as células do organismo e que tem por principal função levar suprimento metabólico e oxigênio para todas as demais células do organismo. E é justamente essa célula que o Plasmodium utiliza com maior eficiência para sobreviver, se multiplicar e gerar os gametócitos (forma infectante para o mosquito) necessários para perpetuação da espécie, isso à custa da destruição de bilhões de hemácias a cada pico febril. Não menos impressionante é a participação dos mosquitos transmissores de malária como componente do ciclo evolutivo da doença, que se multiplicam às centenas de cada vez, necessitam sempre de ingestão de sangue humano ou animal para realizar a maturação de seus ovos, sem o qual a postura não se dá. Seus ovos, larvas e pupas se preservam pelo mimetismo, ou seja, tomam a cor e características do ambiente onde vivem para camufladamente não serem localizados por seus predadores. A fêmea, responsável pela multiplicação, preservação da espécie e transmissão da doença é capaz, através de em uma única cópula, armazenar todos os espermatozóides de que necessita para autofecundar todos seus ovos durante a postura e com eficiência de quase 100%. Os mosquitos machos vivem cerca de 2 semanas e as fêmeas cerca de 2 meses no meio ambiente. Os mosquitos-machos têm apenas a importante missão de produzir espermatozóides em tempo recorde, conseguir copular pouquíssimas vezes e deixá-los armazenados com a fêmea, que os utilizará somente se houver ingestão de sangue, fato que garantirá a perpetuação da espécie em mais essa etapa de luta pela sobrevivência. Desgosto à parte, por estar limitado a uma dieta pobre, ter que suportar os prazeres diferenciados da fêmea, não gozar intensamente da vida em sociedade, não comandar diretamente o processo de fecundação e morrer sem conhecer sua prole, a curtíssima sobrevida dos machos têm ainda razões desconhecidas ou será que poderá estar relacionada com a não ingestão de proteínas pela ausência de aparelho picador? Assim como as tartarugas, nem todos os ovos fecundados se tornarão mosquitos adultos, em função da existência de predadores naturais em suas diversas fases evolutivas. Um único mosquito-fêmea pode conseguir se infectar mais de uma vez e com mais de uma espécie de Plasmodium ao mesmo tempo, o que a fará transmitir ao homem o que chamamos de malária mista, que é complexa e grave. Em uma outra proeza, estes mosquitos ao picarem o homem doente, ingerem todas as formas plasmodiais existentes no sangue do paciente doente e somente os gametócitos masculinos e femininos dão continuidade às etapas de evolução no mosquito fêmea. Após a fecundação dos gametócitos que ocorre no estômago do mosquito, forma-se o oocineto, uma espécie de embrião que consegue perfurar e atravessar o estômago do mosquito, formando em sua parte externa os oocistos (pequenas vesículas) que amadurecerão e irão se romper liberando, na cavidade abdominal do mosquito, cerca de 6 à 8 mil esporozoítos por par de gametócitos ingeridos e fecundados. O estômago de um mosquito infectado chega a apresentar dezenas de oocistos em sua parede externa. Após o rompimento destes, os esporozoítos se espalharão por todo o corpo do mosquito e posteriormente migrarão para suas glândulas salivares, quando estarão prontos para transmitir a doença em tantos quantos picarem, até ocorrer o esgotamento parasitário por injeção destes através da picada ou por morte dos protozoários na glândula salivar, que ocorre naturalmente em cerca de dois meses. Desde a ingestão de gametócitos pelos mosquitos até a formação de esporozoítos infectantes passam-se cerca de 10 a 12 dias, que corresponde ao período de incubação extrínseco do ciclo evolutivo da doença. Os níveis de infectividade do mosquito se dão pela quantidade de esporozoítos presentes em sua glândula salivar. Quanto maior este número, maior sua infectividade, maior a carga parasitária injetada no momento da picada e maiores as chances da doença se instalar. Desconhece-se, por exemplo, os mecanismos pelos quais os esporozoítos passam da parte externa para dentro das glândulas salivares do mosquito, que proporção consegue penetrar e que proporção fica retida e por quê? Nem todos os esporozoítos formados se tornam formas infectantes por não conseguirem chegar às glândulas salivares. Será por obediência ao princípio de seleção natural onde só os mais capazes conseguem penetrar e sobreviver? Ou será que é necessário que uma parcela de esporozoítos se sacrifique em ficar de fora da glândula ou em abrir caminhos para que outra parcela penetre deixando o mosquito em condições de cumprir a infecção no homem? Será que existem esporozoítos operários como existem as abelhas operárias? Qual o verdadeiro motivo deste comportamento entre estes protozoários? Todas essas funções e realizações desses dois seres vivos são comandadas por complexos e ainda desconhecidos mecanismos. A comparação gênica entre seres semelhantes certamente ajudará, por exemplo, a desvendar numerosos mistérios biológicos, mecanismos de eficiência em multiplicação celular e em sobrevivência de seres nas mais adversas condições de vida. Quem sabe os caminhos da longevidade humana não estão a poucos passos de serem descobertos? Quantos e quais genes têm a mesma função nos insetos dos gêneros Anopheles e Drosophila? Um transmite a malária humana o outro é uma inerte mosquinha de fruta. Numerosas perguntas sobre o comportamento da doença, mecanismos de eficiência relacionados com a sobrevivência e multiplicação celular do Plasmodium, tanto no homem como no mosquito além da efetiva resposta humana que não consegue impedir a multiplicação celular do protozoário com a velocidade necessária, ainda estão sem respostas ou parcialmente respondidas. Muitos questionamentos ainda carecem de esclarecimentos que ajudarão a dar novos rumos ao controle e quem sabe à erradicação da malária no planeta. Abaixo, alguns destes questionamentos ainda por serem desvendados ou melhor esclarecidos: • Que estruturas moleculares dos plasmódios participam ou são responsáveis pelos mecanismos de resistência às drogas antimaláricas? • Que mecanismos e estruturas comandam a formação e a diferenciação de gametócitos e merozoítos sangüíneos nas hemácias parasitadas do homem doente? • Por que somente 5 espécies de Plasmodium conseguem causar malária humana? • Por que o P. falciparum se multiplica com uma velocidade incrivelmente maior que os outros plasmódios humanos e porque somente os esquizontes destes se fixam na parede interna dos vasos sangüíneos? • Por que o Plasmodium cumpre tantas etapas de evolução no homem e se transforma a cada etapa em uma nova forma plasmodial para desenvolver a doença? • Por que o P. ovale ficou restrito a uma região da África Oriental e não se espalhou pelo mundo como o P.vivax,o falciparum e o malariae? E por que o P. knowlesi, até pouco tempo atrás causava apenas malária em primatas e agora também causa malária humana? Que evolução aconteceu a nível de receptores? • Por que o fígado humano foi eleito pelo Plasmodium para desenvolver a esquizogonia primária e as hemácias a esquizogonia secundária? • Em que exato momento a malária deixa de ser infecção para se tornar doença? • Por que das mais de 360 espécies de mosquitos do gênero Anopheles, apenas cerca de 54 destas conseguem se infectar com o Plasmodium e transmitir a malária? . Por que somente a população geneticamente negra tem uma proteção extra contra o P. vivax? • Que mecanismos fantásticos de proteção possuem os mosquitos do gênero Anopheles para suportar imensas cargas parasitárias estranhas ao seu organismo, terem seus estômagos e glândulas salivares perfuradas e cicatrizadas múltiplas vezes, realizar o esgotamento parasitário naturalmente, conseguirem se reinfectar e ainda sobreviver frente a um protozoário tão letal para o homem? • Que proporção de esporozoítos é necessária ser injetada pelo mosquito para romper a barreira imunológica no homem e desenvolver a doença? Negligências de toda ordem, resistência à drogas antimaláricas e inseticidas, decadência da infra-estrutura de saúde pública, movimentos populacionais intensificados, agitação política e mudanças ambientais somadas estão contribuindo para a disseminação, aumento e descontrole da malária no planeta. Estudos recentes sugerem que o número de casos de malária podem dobrar em 20 anos, se novos métodos de controle não forem concebidos e implementados. Com a palavra a ciência, a pesquisa e o conhecimento humano. Dr.Wanir José Barroso, sanitarista, especialista em epidemiologia e controle de endemias pela Fiocruz/RJ E-mail: wanirbarroso@gmail.com

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Malária - a informação como estratégia de controle da doença.

A principal estratégia de controle da malária humana em qualquer região do planeta ainda é o pronto diagnóstico e tratamento do homem doente, além de isolá-lo dos mosquitos transmissores enquanto com gametócitos na circulação sanguínea, considerando-se a inexistência de uma vacina eficaz. Tratar e isolar o homem doente é a única forma e eficaz de romper o ciclo da doença. Sem doentes expostos não temos mosquitos com possibilidade de se infectarem e sem mosquitos infectados não temos transmissão da doença. Um mosquito não infectado não transmite nada, só incomoda. Os transmissores da doença (alguns mosquitos do gênero Anopheles) passam a ter importância secundária em regiões onde o paciente é prontamente diagnosticado e tratado ou em regiões onde não existam gametócitos do protozoário em circulação no homem doente ou em portadores assintomáticos. Em áreas não endêmicas ou de transmissão interrompida, como o Rio de Janeiro, por exemplo, não se pensa na possibilidade de diagnóstico de malária quando se está diante de um paciente febril. Nessas áreas, além da letalidade ser mais expressiva, o diagnóstico deixa de ser clínico-laboratorial para ser epidemiológico-laboratorial, quando informações sobre a história de malárias anteriores ou a permanência em áreas de transmissão da doença podem esclarecer ou dar pistas para o diagnóstico. Em regiões endêmicas, a ocorrência de casos é proporcional aos níveis de degradação ou desequilíbrio ambiental, que favorece o aparecimento de superpopulação de mosquitos transmissores cada vez mais especializados, aos níveis de oferta de gametócitos em circulação presentes no homem doente ou assintomático exposto com retardo de diagnóstico e tratamento e aos níveis de informação ou desinformação sobre a doença. No Brasil, a malária é endêmica porque a maioria dos casos ou são tratados tardiamente ou simplesmente não são tratados, esses fatos mantem níveis crescentes de oferta de gametócitos em circulação, produzem novos casos e mantem a malária como endêmica no país. O ciclo da doença não se rompe em função da exposição do homem doente ao mosquito transmissor. E são exatamente esses gametócitos presentes no sangue do doente os responsáveis pela infecção no mosquito. Quanto mais gametócitos expostos em circulação mais mosquitos infectados e quanto mais mosquitos infectados, mais malária. Em outras palavras, o acesso ao diagnóstico e ao tratamento não atinge todos os homens doentes ao mesmo tempo e nem da mesma forma, e são resultantes, principalmente, da inacessibilidade política, geográfica e assistencial. A disponibilização de informações sobre os diversos aspectos da doença, sobre estratégias de recuperação ambiental e principalmente sobre onde buscar por socorro médico especializado para quem se desloca ou está em áreas de transmissão, representam importantes estratégias de controle, considerando-se que o óbito por malária é sempre resultante do retardo de diagnóstico, e este na maioria das vezes é oriundo da desinformação, principal causa do óbito desnecessário por malária. Fazer a informação navegar e chegar antes da transmissão, do surto, da epidemia ou do óbito por malária, é o desafio. Promover o envolvimento e a aproximação de todos que lidam com o problema malária, além de atrair parcerias entre pesquisadores, profissionais de saúde, estudantes, políticos, pessoas comuns da sociedade e empresas, representam estratégias possíveis e esperadas por aqueles que acreditam no controle da endemia. Estas estratégias não só exigem migração de informações em alta velocidade mas também com quantidade e qualidade, até porque na malária infecção assim como na malária doença o Plasmodium aparece, evolui, se multiplica, desorganiza sistemas, leva à falência mecanismos celulares funcionais e de defesa com uma velocidade de causar inveja a qualquer outro ser vivo. Desinformações sobre: o que é a doença, suas formas de transmissão, seus sintomas, os grupos de risco que podem desenvolver suas formas graves, as vantagens e desvantagens da quimioprofilaxia, os mosquitos transmissores e seus criadouros, medidas de proteção individual, os riscos e malefícios da automedicação, a relação das áreas endêmicas no planeta, medidas de recuperação e proteção ambiental e onde buscar por socorro médico especializado representam algumas das carências de informações que propiciam ao infectado a possibilidade de evoluir para as formas graves da doença e o óbito. A malária, além de ser uma doença de evolução muito rápida, é uma doença de suscetibilidade universal, isto é, qualquer pessoa pode contraí-la, desde que haja exposição ao risco em áreas de transmissão da doença, quando acontece a interação do homem doente com mosquitos suscetíveis, e de mosquitos infectados com o protozoário com o homem sempre suscetível na maioria das vezes. Sob este risco estão cerca de 2,8 bilhões de pessoas ou 40% da população mundial, que vivem em áreas de transmissão na região tropical do planeta. Um considerável grupo de pessoas são mais vulneráveis a desenvolverem as formas graves da doença como os portadores de doenças infecciosas como a Aids, crianças, mulheres grávidas,idosos e os que contraem a doença pela primeira vez. Com a iniciativa de formalizar parcerias e de fazer a informação navegar, acreditamos que é possível igualar não só no Brasil, as desigualdades políticas, as sociais e as sanitárias, pelo controle dessa antroponose que silenciosamente silencia milhões de pessoas no planeta todos os anos. Informar, ousar e fazer a informação navegar é preciso! Wanir José Barroso, sanitarista especialista em epidemiologia e controle de endemias pela Fiocruz/RJ E-mail: wanirbarroso@gmail.com * O link e o Folder "Conheça a Malária" abaixo estão autorizados a serem reproduzidos por todos aqueles que se sensibilizam com o problema malária no Brasil e no planeta. http://www.ensp.fiocruz.br/biblioteca/dados/txt_569194722.pdf

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Onde buscar por socorro médico para diagnóstico de malária na Argentina.

http://www.map.ox.ac.uk/browse-resources/temp_suitability/Pv_temp_tsi/ARG/ Eis a lista dos Hospitais e Laboratórios Referências na Argentina com telefones e emails. Gentilmente cedidas pelo Prof Dr Carlos Ponzinibbio. Como na região Extra-Amazônica brasileira a Argentina e outros países não endêmicos da América Central e do Sul têm dificuldades de diagnosticar seus casos importados de malária (que são aqueles casos em que o diagnóstico e o tratamento são feitos em regiões diferentes de onde ocorreu a transmissão da doença). Em regiões não endêmicas esses casos são os que mais evoluem para suas formas graves e o óbito pelo simples fato dos profissionais de saúde não pensarem em malária diante de um paciente febril sem outros diagnósticos conclusivos, ocasionando retardo de diagnóstico e tratamento. Os recursos assistenciais para malária nessas regiões não endêmicas são poucos, concentrados em algumas regiões, pouco divulgados e com poucos profissionais experientes. Isso também acontece nos países Europeus, Asiáticos e da América do Norte, onde praticamente todos os casos detectados são importados. http://www.colaboras.com/tema.php?tema=El-Malbran&id=47 http://wwwnc.cdc.gov/travel/destinations/argentina.htm

quarta-feira, 13 de junho de 2012

MALÁRIA - a gravidade invisível.

"A malária humana é uma doença infecciosa de transmissão invisível, não contagiosa, febril e aguda de evolução potencialmente rápida e grave quando não tratada precocemente, principalmente a causada pelo P. falciparum, que sozinho é responsável pela quase totalidade dos óbitos por malária no planeta. Esse Plasmodium está presente e distribuído de forma irregular em quase todas as áreas endêmicas ou de transmissão, em algumas regiões mais e em outras menos. Na África, por exemplo, cerca de 90% dos casos são por esse protozoário, no Brasil esse percentual é de cerca de 30%. Malária por esse protozoário é sempre uma emergência médica que tem tratamento adequado e eficaz se diagnosticada rapidamente. A malária ainda não tem uma vacina específica e eficaz para nenhum Plasmodium ou forma plasmodial. As principais complicações clínicas na malária são as falências de órgãos, por isso emergência médica. Essas complicações têm como principal causa a intensa destruição celular tanto a nível sangüíneo como hepático. O Plasmodium destrói com a maior habilidade e com poucos dias de doença um número gigantesco de hemácias que comprometem a sobrevivência de todas as demais células do organismo humano, pois são as hemácias, células das mais especializadas e responsáveis por levar oxigênio e metabólitos que garantem a vida de todas as outras. O Plasmodium, a destruição celular e as toxinas oriundas dessa destruição desorganizam o funcionamento de todos os órgãos, principalmente o cérebro. Os rins, o baço, o fígado e os pulmões têm seu funcionamento igualmente e seriamente comprometidos. Nenhum outro ser microscópico destrói células humanas com tamanha eficiência e velocidade. Os quadros de malária cerebral que representam as formas mais graves da doença normalmente tornam-se clinicamente irreversíveis e evoluem rapidamente para o óbito. O retardo de diagnóstico e tratamento e a quimiorresistência aos medicamentos antimaláricos são suas principais causas. As seqüelas neurológicas em crianças, oriundas desses quadros de malária cerebral representam um enorme fardo para a saúde pública e para a sociedade. Que tal pensarmos nisso todos os dias?" Wanir Barroso, sanitarista.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Malária - a transmissão da doença não respeita cor da pele, sexo, idade ou classe social...

Em quatro meses, 25 militares brasileiros contraíram malária no Haiti. http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2010-11-24/em-quatro-meses-25-militares-brasileiros-contrairam-malaria-no-haiti
Morre diplomata brasileira que contraiu malária na África
http://g1.globo.com/politica/noticia/2011/12/morre-diplomata-brasileira-que-contraiu-malaria-na-africa.html
http://www.scielo.br/pdf/rsbmt/v43n5/v43n5a20.pdf

Malária matou 6025 até Out/11 em Angola
http://www.radioculturaangolana.com/noticias/biografias/1984-angola-e-o-nono-pais-africano-com-mais-mortes-associadas-a-malaria-.html
http://www.cmjornal.xl.pt/noticia.aspx?contentID=749965BE-5D78-4767-8234-FF85064A5E45&channelID=00000021-0000-0000-0000-000000000021

Malária em Manaus-Brasil
http://semsa.manaus.am.gov.br/manaus-registra-reducao-de-40-nos-casos-de-malaria/

Malária em Roraima-Brasil
http://www.prrr.mpf.gov.br/noticias/22-04-2010-reserva-yanomami-indios-sofrem-com-paludismo/
http://www.roraimahoje.com.br/home/cidade/5278-malaria-em-roraima-numero-de-casos-aumenta-3528-em-2010.html

A malária brasileira fora da Amazônia
http://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=21170:a-malaria-brasileira-fora-da-amazonia&catid=46&Itemid=18
http://www.infectologia.org.br/default.asp?site_Acao=mostraPagina&paginaId=134&mNoti_Acao=mostraNoticia¬iciaId=23097

Epidemiologia do glamour em navios de passageiros.
http://www.portalmedico.org.br/artigos/artigo.asp?id=1116
O sequenciamento dos genomas do P. falciparum e do A. gambiae e suas implicações no controle da malária humana. http://www.cff.org.br/sistemas/geral/revista/pdf/84/genomas.pdf