quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Malária - a dificuldade de se falar sobre o assunto no Brasil.

(Foto: Hugh Sturrock / Wellcome Images). Vejam o link e os comentários sobre o "Mapa da Malária" feito por pesquisadores da Oxford University. É preciso democratizarmos a informação e o conhecimento.

http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2011/12/mapa-mostra-presenca-de-forma-resistente-de-malaria-no-brasil.html


http://www.map.ox.ac.uk/

http://www.map.ox.ac.uk/browse-resources/

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Nosso folder "Conheça a Malária" chegou ao continente Antártico...

Na "Estação Antártica Comandante Ferraz". A informação estará disponível para os militares e pesquisadores que por lá passam e muitas vezes retornam para áreas endêmicas de malária. Nossos agradecimentos ao comandante Guilherme Cupertino da Marinha do Brasil.

Link do Folder "Conheça a Malária"

http://www.ensp.fiocruz.br/biblioteca/dados/txt_569194722.pdf

http://www.ensp.fiocruz.br/biblioteca/home/exibedetalhesBiblioteca.cfm?ID=5651&tipo=B

domingo, 17 de julho de 2011

A triste realidade da malária na Amazônia brasileira. ANAJÁS no Pará continua pedindo socorro!

Sugestões para o controle da malária em Anajás, na ilha de Marajó, no Pará.

"> Apesar de alguns meses que se foram, Anajás continua na luta contra a malária que acomete seu povo. A sensação é de que a malária em Anajás caminha com o esforço suas curtas, poucas e próprias pernas. Todos os anajaenses praticamente já contraíram malária alguma vez ou algumas dezenas de vezes na vida. O vídeo nos mostra o registro de criança com 11 meses de vida que já contraiu 15 malárias, esse recém nato ainda não sabe o que é uma vida saudável, sem doenças. É estarrecedor ver isso à luz de tanto conhecimento e de tantos recursos. Os poucos serviços assistenciais e médicos para malária em Anajás e em Belém do Pará acabam por estar realizando um trabalho sem fim. Quanto mais diagnosticam e tratam malária, mais malária têm para diagnosticar e tratar. Anajás precisa de muitas lideranças, principalmente lideranças comunitárias comprometidas com o controle de doenças de seu povo. Precisa de um exército de bons brasileiros para realizarem o que chamamos em epidemiologia de trabalhos de campo para romper o ciclo de várias doenças. É estratégia e controle ir atrás de sintomáticos e assintomáticos de malária e encaminhá-los para diagnóstico, tratamento e isolamento até a cura total, retirando-os das áreas de transmissão. Que tal a construção de um hospital-hotel biosseguro com muitos quartos telados, laboratório, farmácia, lavanderia e serviço de nutrição para abrigar, tratar e retirar das áreas de transmissão os anajaenses com malária com a maior dignidade e conforto do mundo? Estratégias de toda ordem podem ser estabelecidas. Criar canais de informação sobre a doença para a população, aumentar o número de laboratórios volantes, ou até mesmo treinar voluntários das comunidades mais distantes para diagnosticar malária, mapear criadouros para serem trabalhados, orientar e informar quem chega e quem sai de Anajás são outras estratégias importantes que não podem ser esquecidas. A população de mosquitos transmissores de malária pode e deve ser reduzida, principalmente onde há ocorrências de casos. Um fato, é impossível erradicar os mosquitos transmissores de malária em Anajás e na Amazônia, e nem precisamos erradicá-los para ter a malária sob controle. Os amazônidas e nós do sudeste teremos que conviver com esses mosquitos enquanto houver chuva, água, vida, floresta, áreas alagadas, luta pela sobrevivência, manutenção e preservação de espécies. Os seres vivos se adaptam a todas as mudanças e às mais adversas condições de vida, e nós também. Tratar adequadamente e isolar dos mosquitos transmissores os pacientes doentes, não só é possível como também é a única medida de impacto importante para reduzir a transmissão da doença em Anajás ou em qualquer outra área endêmica da Amazônia ou do planeta. Possívelmente essa criança e seus familiares que tiveram múltiplas malárias foram fontes de infecção para mosquitos transmissores e receptores de Plasmodium dos mesmos mosquitos. É um ciclo que não se rompeu. Com relação ao controle possível dos mosquitos transmissores, o uso de inseticida tipo fumacê ou fog pode ser usado para bloqueio de transmissão em áreas urbanas ou urbanizadas onde ocorreram casos. O uso dessa forma de inseticida não deve ser utilizado em áreas de mata preservada, pois provoca desequilíbrios ambientais influenciando na cadeia alimentar de outros seres. Usar inseticidas em casas com paredes protegidas da chuva tem também sua eficiência, lembrando que inseticidas são produtos que têm níveis de toxicidade para o homem. Essas estratégias reduzem a população de mosquitos alados infectados onde ocorreram ou ocorrem casos da doença. É importante destruí-los, para que não ocorram novos casos. Para que um mosquito da malária se infecte é preciso que eles se alimentem com o sangue de pacientes doentes com malária ou pacientes tratados inadequadamente. O plasmodium não é repassado de uma geração de mosquitos para outra. Já de um mosquito transmissor de dengue infectado com o vírus da dengue nascem centenas de novos mosquitos igualmente infectados. Em resumo, é muito mais fácil controlar malária do que dengue sob esse ponto de vista. Em todas as doenças cuja transmissão se dá pela picada de mosquitos, o homem doente exposto ao mosquito transmissor assegura o não rompimento do ciclo evolutivo da doença. O tratamento alternativo apresentado no vídeo equivale a dar ao paciente o medicamento que se tem disponível e não o que realmente o paciente necessita para seu tratamento e cura. Sem comentários no que se refere a usar medicamentos dessa forma em termos de controle, tratamento, legalidade, responsabilidade e ética... Se ocorrem casos de malária em determinada região é porque há mosquitos infectados com o Plasmodium em circulação e doentes sem diagnóstico e tratamento ou doentes assintomáticos expostos a mosquitos transmissores. Com relação aos ovos e larvas de mosquitos, a aspersão de inseticidas no ambiente não destrói essas formas evolutivas do mosquito simplesmente porque estão na água. Colocar peixes ou criar muitos peixes em áreas alagadas retirando a vegetação das margens favorece a alimentação dos peixes com as larvas de mosquitos, o que faz diminuir a população de alados. É exatamente no meio dessa vegetação nas margens que os mosquitos colocam seus ovos, que possuem flutuadores e tomam a cor do ambiente para se preservarem de seus predadores. As larvas de mosquitos têm outros numerosos e eficientes predadores, como larvas de outros insetos aquáticos. As larvas das lavadeiras, aquele inseto com dois pares de asas são excelentes e vorazes predadores de larvas de mosquitos. Para cada criadouro identificado, usar sempre a melhor estratégia, ou escoando águas paradas através de canais, ou aterrar criadouros pequenos, ou colocar peixes com margens limpas de vegetação em ambientes aquáticos maiores, ou até outras que não agridam o meio ambiente. Sempre há algo que possa ser feito para que o criadouro perca essa função. A principal estratégia e meta deve ser destruir os mosquitos alados infectados onde ocorreram casos, tratar e isolar da picada de mosquitos pacientes sintomáticos e assintomáticos de malária para romper o ciclo da doença. Enquanto tiver alguém com malária em Anajás exposto a mosquitos transmissores, o ciclo da doença não se rompe e os anajaenses continuarão a colecionar suas malárias, suas febres, seus calafrios, suas dores e sofrimentos, suas semanas sem trabalho, seus dias sem aulas e seus óbitos. Já passou da hora dos anajaenses se indignarem com tantos casos de malária. Esperamos que nos ouçam e que ajudem Anajás se tornar referência para os outros municípios da Amazônia e para outras áreas endêmicas no controle de suas doenças. O controle é algo possível e ninguém precisa contrair e muito menos morrer de malária. Os Anajaenses podem conviver com os mosquitos transmissores de malária e sem malária, como nós aqui do sudeste convivemos com nossos Anopheles aquasalis, darlingi, cruzii e outros. Afinal somos todos igualmente brasileiros e certamente os anajaenses aumentarão seu número de parceiros nesses desafios! Com a palavra todos aqueles que se sentirem movidos pelo sentimento de ajudar Anajás a controlar suas epidemias e suas endemias. O momento e o desafio é o de dar uma chance ou uma mãozinha prá vida. Wanir Barroso, sanitarista.
Anajás e os anajaenses aguardam pelo seu contato!
Email da Secretaria Municipal de Saúde de Anajás: smsanajas@yahoo.com.br
Fone/Fax: (91) 3605-1123


Oeiras no Pará também continua pedindo socorro.





Entrevista:
O perigoso silêncio: malária mata mais fora da Amazônia, revela especialista

Por Isabela Pimentel
http://luispeaze.com/2010/perigo-maior-em-copacabana-do-que-na-amazonia

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Malária - como a principal forma de transmissão acontece.

A principal característica do mosquito transmissor de malária à vista desarmada, é que ele pousa formando um angulo de 45º com a pele durante a picada, como mostra a foto. A picada do mosquito infectado com o Plasmodium, a chegada do protozoário ao fígado, sua intensa multiplicação na célula hepática, o rompimento dos hepatócitos repletos de protozoários (esquizontes hepáticos), lançamentos dos merozoítos hepáticos na corrente sanguínea, a invasão das hemácias pelos merozoítos hepáticos, a intensa multiplicação do protozoário dentro da hemácia, o rompimento das hemácias (esquizontes sanguíneos), nesse momento acontece a febre na malária, reinfestação de novas hemácias pelos merozoítos sanguíneos oriundos das hemácias infectadas que se romperam. Enquanto não houver diagnóstico e tratamento o número de hemácias que se rompem tende a ser muito superior ao número de hemácias que são repostas pelo organismo, daí o quadro de anemia, amarelidão e evolução para as formas graves. O ciclo no mosquito começa a partir da ingestão de sangue contaminado com os gametócitos e outras formas plasmodiais presentes no homem doente. Somente os gametócitos evoluem no mosquito formando os esporozoítos, formas infectantes para o homem. O ciclo no mosquito dura cerca de 10 a 12 dias. Esses esporozoítos se alojam em suas glandulas salivares e causam a doença no homem quando injetados pela picada do mosquito.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Números da malária no planeta.

Fonte: CDC-USA
• 3,3 bilhões de pessoas vivem em áreas de risco de transmissão de malária em 109 países, esse número corresponde a metade da população mundial.
• 35 países, sendo 30 na África Subsaariana e 5 na Ásia representam 98% das mortes por malária no planeta.
• A OMS estimou que em 2008 a malária causou de 190 a 311.000.000 episódios clínicos, e de 708.000 a 1.003.000 mortes.
• 89% das mortes por malária no mundo ocorrem na África.
• A malária é a quinta causa de morte por doenças infecciosas no mundo, depois de infecções respiratórias, HIV / AIDS, doenças diarreicas e tuberculose.
• A malária é a segunda causa principal de morte por doenças infecciosas na África, depois de HIV / AIDS.
• Nas Américas, o Brasil é o país com o maior número de casos, com transmissão de malária nos Estados Amazônicos e nas regiões de Mata Atlântica dos Estados da região sudeste.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Malária - onde buscar por socorro médico em Luanda-Angola

Você já teve malária?

Fazer uma pergunta dessas a um angolano equivaleria a perguntar para alguém, em São Paulo, se já ficou gripado alguma vez na vida. A malária ainda é endêmica por aqui. No ano passado, 2 milhões de pacientes foram internados nos hospitais de Angola com malária, que em Angola também é conhecida como paludismo.
http://casadeluanda.blogspot.com/2008/05/voc-j-teve-malria.html
Em Angola há transmissão de malária em área urbana como há transmissão de dengue no Rio de Janeiro. O mosquito transmissor de malária em Angola, o Anopheles gambiae se urbanizou, assim como se urbanizou o mosquito Aedes aegypti no Rio de Janeiro, transmissor da dengue. Negligências de toda ordem e esses mosquitos transformaram como endêmicas essas doenças nesses dois países.

Nossos agradecimentos à Daniela Nobrega que nos enviou essas informações abaixo.
Telefones e emails:
Hospital Militar:
222 324 448
222 322 220
Direcção Geral - 222 325 947
email: hosmilp@netangola.com

Clínica Multiperfil:
222 469 439
222 469 447
222 469 446
email: geral@multiperfil.co.ao

Situação e números da malária em Angola:
http://pjuliao.blogspot.com/2007/09/malria-indstria-da-morte-em-angola.html
http://casadeluanda.blogspot.com/2008/05/voc-j-teve-malria.html
http://cmdt.ihmt.unl.pt/downloads/doc_00000141_20061013-1214.pdf
http://www.angolaxyami.com/Saude/Angola-nao-progrediu-no-combate-a-Malaria-afirmou-a-Organizacao-Mundial-da-Saude-OMS.html

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A dificuldade de diagnosticar malária fora da Amazônia no Brasil.

O que faz a malária evoluir para suas formas graves e o óbito nas áreas de transmissão interrompida da região Extra-Amazônica brasileira é o retardo de diagnóstico e tratamento e a desinformação sobre a doença. A maioria dos profissionais de saúde nessas regiões não pensam em malária diante de um paciente febril sem outros diagnósticos conclusivos. Por causa disso a letalidade por malária nessas regiões é dezenas de vezes maior do que na Amazônia, isto é, a possibilidade de se morrer de malária fora da Amazônia no Brasil de alguém que contraiu a doença em qualquer área endêmica do planeta e veio a apresenar os sintomas por aqui, como Rio, São Paulo ou Santa Catarina, por exemplo, é dezenas de vezes maior do que na Amazônia.

Leiam os artigos:
http://www.bio.fiocruz.br/index.php/artigos/331-a-malaria-e-as-vitimas-da-desinformacao
http://www.scielo.br/pdf/rsbmt/v43n4/a32v43n4.pdf

sábado, 29 de janeiro de 2011

Malária cerebral em criança britânica na Nigéria

Prezado Dr Barroso,
Parabenizo-o pelo excelente artigo sobre malária, que acabo de ler em seu blog: http://malariabrasil.blogspot.com/2010/04/malaria-quimioprofilaxia-e-medidas-de.html
Uma criança britânica de 4 anos, conhecida nossa, contraiu malaria cerebral e está em coma desde ontem na Nigeria, amanhã o médico deve fazer uma transfusão de sangue para tentar salvá-la: o senhor acha ser esse o procedimento correto?
Qual a chance dela escapar da morte e quais as seqüelas?
Pelo que li, assim que possível ela deveria ser tirada daquele país, minha duvida é onde seria melhor para ela, pois o pai já havia comprado passagem para o Chile e Brasil, pois na condição dela talvez fosse melhor voltar para a Europa, que é mais próxima de onde estão...
Li, porém que regiões com mais de 1500m de altitude não favorecem o contagio - nesse caso as montanhas chilenas podem ser um bom local para ela se recuperar por uma semana, sem colocar o pai e outras pessoas em risco?
Também pensei que no Brasil talvez tenhamos mais especialistas em malária para ajudá-la, do que se voltasse para a Inglaterra. O senhor concorda com isso?
O pai dela está trabalhando em um projeto na Nigéria e por isso levou sua filhinha. Estou rezando para que ela sobreviva e minha filha adolescente já disse que vamos “adotá-la” para morar conosco aqui em São Paulo. O senhor acha que correríamos risco de também contrair malária?
Agradeço imensamente a sua atenção e, se possível, gostaria de conhecer a sua opinião pelo exposto acima...
Atenciosamente,
Tania

Prezada Tania, agradecendo o email e suas palavras sobre o artigo, informo-lhe que transfusão sangüínea em casos de malária cerebral ou não, é para repor células sanguíneas que foram destruídas pelos plasmódios, principalmente as hemácias, pois a velocidade de destruição das hemácias pelos plasmódios é muito maior que a velocidade de reposição de hemácias que nosso organismo consegue repor. E hemácia é uma célula vital para o funcionamento de todos os órgãos e sistemas, pois é ela quem leva oxigênio e metabólitos para as demais células. Informo também que para transfusão sanguínea é importante testar a contaminação do sangue antes de ser transfundido: para a AIDS, malária e hepatites, principalmente em locais com poucos recursos médicos e tecnológicos. Já tivemos aqui no RJ um caso de malária transfusional de um brasileiro vindo de um país africano. Este caso também poderia ter sido de AIDS ou hepatite. O tratamento da malária é medicamentoso com medicamentos chamados antimaláricos em qualquer fase da doença e estes devem sempre ser avaliados seus efeitos de cura através da redução da parasitemia (redução do número de protozoários no sangue) feita através de exames de sangue que são simples, chamados gota espessa ou esfregaços sanguíneos. Pois existe a possibilidade do Plasmodium estar resistente ao medicamento prescrito, com isso o caso pode evoluir, inclusive para quadros graves como o coma malárico e a malária cerebral, e a cura não ocorrer por falência terapêutica. A quimiorresistência que os plasmódios adquirem frente aos medicamentos antimaláricos representa um dos maiores entraves no controle da endemia no planeta. O arsenal terapêutico para o tratamento de malária se encurta cada vez mais. Hoje as indústrias farmacêuticas preferem pesquisar novos medicamentos para calvície do que novos antimaláricos. Dá para imaginar os motivos?...Pois é... Neste caso de malária cerebral o que pode ter havido também, foi retardo de diagnóstico e de tratamento além de desinformação sobre a doença, ou seja, de que se poderia contrair malária na Nigéria, país com alta endemicidade da doença, inclusive em áreas urbanas, e que se viesse a sentir sintomas em que o principal é a febre, deve-se imediatamente ir em busca de socorro médico, achando que contraiu malária, com isso o quadro poderia não evoluir para suas formas graves, como dito anteriormente. Quanto maior a velocidade no diagnóstico e no tratamento da malária, assim que aparecem os sintomas, melhores são os prognósticos para o tratamento e cura da doença. Cerca de 90% dos casos de malária na Nigéria são causados pelo P. falciparum, o protozoário mais agressivo da doença e responsável por quase 100% dos óbitos por malária no planeta. Infelizmente são poucos os casos de malária cerebral que sobrevivem sem seqüelas, pois há comprometimento das células cerebrais e de todo sistema nervoso central, precedido na maioria das vezes por falência de vários outros órgãos como os rins, os pulmões, o baço e o fígado, que acabam se tornando casos graves em função dessas complicações clínicas. A maioria desses casos são emergências médicas e casos de CTI, isto é, de Centro de Tratamento Intensivo. Casos graves de malária como esse exigem tratamento intensivo e não devem ser removidos para lugares distantes, a não ser que o hospital apresente precários recursos médicos-assistenciais que comprometam a vida. Pesquisadores americanos da Michigan State University-USA, em estudo recente com crianças africanas mostrou que quase um terço dos sobreviventes de malária cerebral desenvolveu epilepsia ou outros distúrbios de comportamento que apareceram pós alta hospitalar. A febre alta e complicações advindas do entupimento das artérias de pequeno calibre pelas células parasitadas com os plasmódios lesionam o tecido cerebral e comprometem as células nervosas. A destruição do tecido nervoso pode deixar seqüelas das mais variadas e inesperadas formas. Existe um enorme fardo dos distúrbios neurológicos pós-malária, principalmente em crianças.
Países que não têm malária de forma endêmica como a Inglaterra e o Chile, têm poucos profissionais médicos com experiência além de poucos e concentrados recursos laboratoriais para diagnóstico e tratamento de malária. Isso também ocorre no Brasil em regiões de transmissão interrompida, como a região extra-amazônica. Hoje lhe informo que a malária está sem controle no planeta, principalmente nos países africanos. E a AIDS na África não está diferente da malária. O que está acontecendo com essa criança, acontece com milhares de outras crianças africanas todos os anos, infelizmente. No Brasil, podemos contrair malária na Amazônia, que corresponde a cerca de 50% do território brasileiro, em regiões de Mata Atlântica na região sudeste (ES,RJ,SP e SC) e no vale do Rio Paraná, além de riscos de reintrodução da doença através de casos importados onde existe o mosquito transmissor da doença. No Brasil não temos transmissão de malária em áreas urbanas como SP e RJ, porque não temos mosquitos transmissores nessas regiões urbanizadas. Na maioria dos países africanos a urbanização de mosquitos transmissores de malária é uma realidade. Tanto os mosquitos como nós, estamos em constante luta pela sobrevivência, manutenção da vida e preservação da espécie. Os mosquitos se adaptam muito facilmente às mais adversas condições de vida e sobrevivência, às vezes muito diferentes das que estão acostumados. Apesar de não possuirmos transmissão de malária em áreas urbanas do RJ e SP por não possuirmos o mosquito transmissor, temos uma letalidade por malária de casos importados dezenas de vezes maior que na Amazônia em função da desinformação sobre a doença. A exceção de transmissão de malária em áreas urbanas fica para o entorno das cidades da Amazônia onde ocorrem casos, como Manaus, Belém e Boa Vista por exemplo. Para que um novo caso de malária ocorra é necessário que alguém com malária permaneça sem diagnóstico e tratamento em determinada região e exposto aos mosquitos do gênero Anopheles, transmissores. Se tratarmos o doente com malária antes dele ser picado por novos mosquitos, conseguimos romper o ciclo da doença evitando a transmissão, o aparecimento de novos casos e a ocorrência de surtos ou epidemias. Isolar e tratar o paciente doente em quartos telados em áreas de transmissão é uma excelente medida para não infectar novos mosquitos e por conta disso, não ocorrerem novos casos. Isso também vale para interromper a transmissão de dengue em áreas urbanas e quase ninguém usa dessa estratégia. Uma das diferenças entre o mosquito da dengue e o da malária, é que a prole de um mosquito da dengue infectado com o vírus da dengue já nasce toda infectada, pronto para transmitir a doença. E o mosquito da malária não. Cada mosquito transmissor de malária para se infectar com o Plasmodium precisa picar um homem doente com a malária . Resumindo, é muito mais fácil controlar malária do que dengue por causa disso, sob esse ponto de vista. Existe também a possibilidade de se contrair malária em portos e aeroportos, pois o mosquito infectado com o Plasmodium pode vir dentro de navios e aviões vindos de áreas endêmicas ou de transmissão, infelizmente também quase ninguém se importa ou sabe disso. Pois é, não é de hoje que a malária anda caminhando com suas próprias pernas, com suas poucas pernas e com suas curtas pernas. Precisamos sair da condição de expectadores desse sofrimento humano,...pensem nisso!
Tania, continue nos informando, e conte conosco. Atenciosamente Dr Wanir Barroso, sanitarista.

Prezado Dr. Barroso,
A criança recebeu a transfusão de sangue e está respondendo ao tratamento com artesunate, usado tradicionalmente na Asia, e voltará para a Europa assim que possível. Mais uma vez agradeço a atenção,
Cordialmente,
Tania